A história do Karate perde-se no tempo. Formas de defesa pessoal que
usavam os próprios membros como armas, foram vistas em muitos lugares do mundo
em épocas bem distantes. A teoria mais aceita hoje sobre sua origem é a de que
um monge – Daruma – vindo da Índia para a China teria trazido os ensinamentos
de uma luta ao Mosteiro Shaolin.
Na China, sob a orientação de Dharma (Bodhidharma), e como os monges
passavam muitas horas em meditação, permaneciam muitas horas imóveis, o que
aliado aos meios de subsistência, faziam com que os monges se tornassem mais
volúveis às doenças.
Então, Dharma, iniciou com estes monges a prática de uma atividade
física, com o intuito de lhes estabelecer a força física e espiritual. Foi
assim que nascia o Kempô e passado pouco tempo, pelas suas técnicas bastante
eficazes, estes monges eram temidos principalmente pelos salteadores de
estradas da época.
No século XIV, o Kempô foi introduzido em Okinawa. Lá se desenvolveu
desmembrando-se em três escolas importantes. Mais tarde, no século XIX, esta
prática sofre algumas alterações técnicas, introduzidas por Matsumura, e passa
a ser designada por Karate. GinchinFunakoshi, após uma apresentação pública de
Karate no Japão, em 1922, passa a ser considerado o grande renovador desta arte
marcial, uma vez que foi o primeiro a conciliar o Karate com os aspectos
físicos do desenvolvimento humano.
A vida em Okinawa sempre foi rude. Para se adaptar ao meio naturalmente
hostil e extrair seu alimento de um solo fino e impróprio ao cultivo, o
habitante de Okinawa precisou forjar a vontade, a tenacidade e a engenhosidade
– qualidade que teria que ter ainda em dobro em face de sucessivos invasores
que pretendiam subjugá-lo, a todo custo.
O instinto
de sobrevivência faria surgir recursos de resistência, técnicas de combate a
mãos nuas (ancestrais do Karate) ou com armas improvisadas (ancestrais do
KoBudo – Sai, Bo, Nuchako, Kama, Tonfa, Chimbe, Tekko, etc). Pescadores e
agricultores de índole talvez pacífica conheceram uma história tumultuada
sobretudo pela opressão dos poderosos chineses e japoneses. Pela preservação da
própria individualidade e hostis a toda tentativa de integração, geração,
acabaram por forjar a alma do povo okinawense, como uma Segunda natureza.
Mas nada
permite afirmar que essa arte tenha oficialmente sido introduzida na ilha por
verdadeiros mestres. Esse primeiro impacto, ainda superficial, deu-se
provavelmente na pequena cidade de Kumemura onde estava instalada a parte
essencial do grupo de imigrantes chineses.
Em vez de,
no entanto, se desistimularem, os oprimidos okinawenses viram no fato um motivo
a mais para desenvolverem técnicas de combate apoiadas nas próprias mãos e em
elementos de Chu-Fa (trazidos pelos chineses) ou a se bastarem com os
instrumentos de uso doméstico de que dispunham, os quais seriam convertidos em
novas armas (origem do Ko-Budo).
Precisamente
ao dia 5 de abril de 1609, os Satsumas se atiram sobre Okinawa – que estava
estão com meio milhão de habitantes – com uma frota a desembarcar 3 mil guerreiros.
Okinawa caiu sob o julgo do clã invasor e assim ficou até o ano de 1879, data
em que a ilha se tornou território japonês, incorporada ao Império de
Matsu-Hito.
Problemas
elementares de subsistência não tardaram a surgir. Conta a história, que finalmente
os nativos obtiveram do conquistador o direito de cada aldeia possuir, a
disposição, uma única faca, presa a grosa corrente na praça central, guardada
por dois soldados.
A dominante
das técnicas de combate a mão nuas era indiscutivelmente chinesa (ainda que,
com o passar do tempo, se mesclasse com influência de outras) e reportava-se,
no. essencial, à arte Shaolin – seus mais variáveis aspectos como os estilos
dos animais, a ênfase à respiração e à força mental, a eficácia dos golpes
desferidos nos pontos vitais do corpo. Em suma, as mesmas diretrizes do
Kung-Fu.
Este último
aspecto emergiria bem mais tarde, para tornar-se preponderante no século 19,
seguindo assim com um pouco de atraso a mesma evolução conhecida pelo conjunto
de Artes Marciais japonesas que evoluíram do Bugei (técnica de guerra) para o
Budo (via da arte marcial).
O Okinawa-Te revivia, assim, a
tradição dos monges do mosteiro Shaolin, que eram perseguidos pelo policiamento
imperial. Tecnicamente sabe-se bem pouco desse período obscuro do Karate,
exceto que pés e mãos (pontas dos dedos, antebraço, cotovelos, joelhos)
tornaram-se armas eficientes e rápidas, capaz de substituir as lâminas banidas.
Não havia lugar para estética e, também, não se pode dizer que os estilos já
haviam se individualizados naquela época. É mais sensato situar no século 18 a
formação de três estilos básicos de Okinawa-Te: Shuri-Te – denominações
provenientes dos nomes das cidades nas quais eram praticados. Também não se
pode afirmar que já se praticavam alguns Katas – embora algumas fontes citem o
Passai (antigo Kata praticado desde o século 14) e o Koshiki-Naihanti (antiga
forma do Tekki), cuja posição em “cavaleiro de ferro” se adequaria bem às
necessidades dos habitantes da ilha de treinar sobre rochedos.
GinchinFunakoshiconsiderado
o pai do Karate, nasceu em 1868, no distrito de Yamakawacho, em Churi, sede
administrativa de Okinawa e faleceu em 1957, aos 89 anos em Tókio.
Começou a
praticar Karate em Okinawa com o mestre YasutsuneAzato, um homem alto e dinâmico
que tinha batido muitos homens na sua época e, insuperável na arte do Karate em
toda a Okinawa, além disso, primava na arte de equitação, esgrima, e do manejo
do arco. Treinou, também, com outros grandes mestres, tais como: mestre Ki,
que, Kiyuna, que usando a mão sem proteção, podia retirar a casca de uma árvore
viva numa questão de momentos; mestre Toonno de Naha, um dos eruditos
confucianos mais conhecidos da ilha; mestre Niigaki, cujo extraordinário bom
senso impressionou-o profundamente. Mestre Matsumura, um dos karatekas mais
notáveis e YasutsumeItosu, também, um dos mestres mais respeitados naquela
época.
De físico
pouco avantajado, GinchinFunakoshi sofreu muito nos treinamentos. Treinou muito
KataTekki (Naihanchi) que durante muito tempo foi a base da arte. Desenvolveu
força golpeando o makiwara e treinando com chinelo de ferro.
Sempre foi
costume que o aluno treinasse com um único mestre e nunca o deixasse, mas
mestre Azato pensava que não deveria ser assim, razão pela qual enviava seu alunos
para treinar com outros mestres. Com isso Funakoshi teve a oportunidade de
treinar com os mestres já mencionados.
Ansioso de
perfeição, sua imagem refletia o mais completo Budoka e seu ideal era conseguir
todo bem resultante da prática do Okinawa-Te.
Funakoshi
passava todo o seu tempo livre treinando na casa do seu mestre, e só ia à casa
para trocar de roupa. Devido às suas saídas noturnas para treinar, muita gente
pensava que visitava bordel. Mas, um dia, passou sobre a cidade uma forte
ventania, e viram Funakoshi subindo num telhado e praticando a força de suas
bases (posições). Chegaram a pensar simplesmente que estava louco. Nunca
adivinhariam que este homem, professor pobre cuja mulher trabalhava numa granja
para angariar dinheiro para a família, seria um artista marcial respeitado
mundialmente.
Além de
mestre de Karate-Do, era como já vimos, exímio poeta e quando escrevia os seus
poemas usava o pseudônimo de Shoto, que quer significa ondas de pinheiro. Ele
usava este nome porque a cidade nativa de Shuri, local do seu nascimento, era
rodeada por colinas com florestas de pinheiro RyuRyu e vegetação subtropical.
Entre elas estava o monte Toroa. A palavra Toroa significa “cauda de tigre” e
era particularmente adequada porque a montanha era estreita e tão densamente
arborizada que realmente tinha a aparência de uma cauda de tigre quando vista
de longe. Quando dispunha de tempo, costumava caminhar pelo monte Toroa, às
vezes à noite quando a lua era cheia ou quando o céu estava tão claro que se
podia ficar sob uma cobertura de estrelas. Nestas ocasiões, podia-se ouvir o
farfalhar dos pinheiros e sentir o profundo e impenetrável mistério que está na
raiz de toda a vida.
Em 1936, foi
fundado o primeiro Dojo oficial de Karate, pelo Comitê Nacional e, devido aos
feitos de mestre Funakoshi foi batizado com o nome de Shoto-Kan. Daí surgiu o
nome de uma escola (estilo) que até hoje é cultivada em várias partes do mundo,
a Shotokan, ou seja, Shoto, pseudônimo de Funakoshi, mais Kan, escola, formando
Escola de Funakoshi.
O Karate que
conhecemos hoje foi aperfeiçoado através de mais de sessenta anos pelo mestre
GinchinFunakoshi. Portanto, ele é considerado o pai do Karate moderno.
FILOSOFI
O Karatê é um esporte-arte
fundamentado nos princípios do respeito mútuo e equilíbrio corpo mente, de
forma a buscar o elevo do caráter e harmonia no convívio social procurando
sempre a correção dos erros numa visão de auto-estima e respeito ao próximo.
"Se o
adversário é inferior a ti, então porque brigar?
Se o
adversário é superior a ti, então porque brigar?
Se o
adversário é igual a ti, compreenderá o que tu compreende...
Honra não é
orgulho, é consciência real do que se possui."